Luzes

“(…) Mesmo que estivesse em uma prisão, cujos muros não permitissem que nenhum dos ruídos do mundo chegasse a seus ouvidos, o senhor não teria sempre a sua infância, essa riqueza preciosa, régia, esse tesouro das recordações?”

— Rilke, em Cartas a um jovem poeta

Eu lembro toda noite: eu tinha poucos anos de idade, e ia pra cama bem cedo. Os pais sempre põem as crianças cedo na cama com aquela história de “deite que o sono vem”, mas ele não vinha.

Lembro dos automóveis passando pela rua, do reflexo das luzes dos carros no teto do meu quarto, após passar pelas frestas das janelas da varanda. Eu passava um tempão vendo as luzes se moverem no teto, na minha cabeça esses momentos observando as luzes parecem ter durado horas a cada noite…

O barulho de casa ia diminuindo até cessar, lá pelas tantas. O restante das luzes, que passava pela porta do meu quarto, também ia se apagando. E, só após tudo escurecer, finalmente eu conseguia dormir. Insone, desde criança.

É só pôr a cabeça no travesseiro à noite pra lembrar tudo de novo. E a cabeça tenta repetir aquele momento, tocar de novo o silêncio, sentir a tranquilidade, provar a paz de espírito guardada há muito.

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