Dia desses, num dos dias de pedalada em grupo, durante uma parada num semáforo, uma colega iniciante perguntou por que eu pedalava tanto. Uma pergunta inocente e que esperava uma resposta curta.
Vi várias coisas passando na minha mente, por dois segundos.
Meses atrás, durante uma viagem para São Paulo, li Cartas a um jovem poeta, livro pequeno de Rainer Maria Rilke, mas grandioso em conteúdo. Há uma citação fabulosa no meio do livro:
“(…) No fundo, e justamente quanto aos assuntos mais profundos e importantes, estamos indizivelmente sozinhos, de modo que muita coisa precisa acontecer para que um de nós seja capaz de aconselhar ou mesmo ajudar o outro, muitos êxitos são necessários, toda uma constelação de acontecimentos têm que se alinhar para que isso dê certo alguma vez.”
A compreensão entre pessoas é algo complicado e, no fim das contas, cada pessoa está só, com sua história, suas motivações, seus dilemas. Podemos sentir compaixão pelo próximo e tentar entendê-lo nos colocando em seu lugar, recomendação típica da prática budista; podemos saber ouvir; mas o real entendimento depende de um longo caminho.
No primeiro episódio da segunda temporada de Lost, Desmond (em uma de suas primeiras aparições na série), encontra Jack num tour de stade (prática que consiste, resumidamente, em correr pelas escadas dum estádio). Jack, médico obstinado em resolver todos os males dos pacientes, se machuca, e Desmond, que tem problemas amorosos, tenta ajudá-lo. Na minha opinião, é um dos melhores diálogos de Lost.
Excuse?
To run like the devil’s chasing you.

Em português, seria algo como:
Desculpa?
Pra correr como se o diabo perseguisse você.
A pergunta da minha colega não tinha uma resposta curta. Demorei uns 2 segundos, suspirando, pensando numa resposta. Dei alguma resposta técnica, do tipo “pedalar na frente cansa menos e mantém o ritmo”, e sua dúvida foi satisfeita.
Garota, você nunca entenderia.
Entendo bem o que é isso. Hoje em diz quando perguntam por quê eu corro simplesmente digo que é para manter a saúde, o peso. Acaba sendo mais fácil de explicar. Dizer que é para consumir a raiva as frustrações do dia a dia nem sempre é bem entendido e não é necessariamente representativo…
Algumas vezes uma resposta curta é tudo que uma pessoa quer escutar. Talvez não o quanto, mas o suficiente. O triste é quando se quer converçár e tudo o que se escuta são coisas desse tipo. 😉 Gostei das palavras.
Found ya! Gostei dos textos! Quem dera eu ainda tivesse saco de escrever depois de passar o dia lendo e escrevendo sobre tratores. Abraço!
Um texto maravilhoso desses, olha ~: dialoga muito bem com o que penso sobre as motivações pessoais de cada um. Você pode dar uma resposta pronta ou uma resposta elaborada que condiz com o que você sente; por mais empática que a pessoa seja, ela não possui os meios de entender. Como você mesmo disse "A compreensão entre pessoas é algo complicado e, no fim das contas, cada pessoa está só, com sua história, suas motivações, seus dilemas". Mas fico feliz que mesmo sabendo disso você tire um tempo para compartilhar suas impressões sobre tudo que te é tão caro por aqui (vale pra tudo pois sei que o post é antigo haha) 🙂