Educação soterrada no asfalto

Eu tenho um sonho de morar em algum lugar do globo com transporte coletivo decente, onde eu não seja escravo do automóvel pra me locomover de maneira rápida e segura (4 dos 5 assaltos ou furtos que sofri envolviam estar no ônibus, na parada do ônibus ou a caminho da parada). Ou, melhor ainda, queria viver numa sociedade civilizada onde os motoristas obedecem a lei, não atropelam ciclistas e eu pudesse usar a bicicleta no lugar do carro. Enquanto isso não ocorre, continuo no meio do engarramento e dos motoristas mal educados, tentando manter a calma, já que dirigir parece estupidificar as pessoas e roubar o que há de melhor no ser humano.

 


 

Essa semana eu estava estacionando perto do trabalho, fazendo uma balisa como manda o figurino: sinalizei antecipadamente, parei logo após a vaga e comecei a dar a ré para estacionar. Eis, então, que um belo sedã prateado invade a vaga com tudo, me deixando com uma cara de eu-não-acredito-nisso olhando o retrovisor, diante de um dos maiores exemplos de má educação que já presenciei nos meus breves quatro anos de condutor.

Dei a volta no quarteirão, parei numa vaga mais distante (a única disponível), e andei pela calçada até me aproximar do veículo mal educado. Esperei o condutor sair: uma senhora em torno de 50 anos, mal humorada e berrando com alguém ao celular. Como não era alguém que pudesse me bater numa briga e nem parecia portar um 38 dentro da roupa de perua que ela usava, tentei um diálogo, fria e educadamente, tentando não transparecer minha raiva:

 
– Moça, com licença, boa tarde. Tudo bem?
– Hein? Tudo, o que é?
– Oi, é que eu estava parando meu carro nessa vaga, estava dando a ré pra entrar, sinalizando, quando você invadiu ela. – Perdoem-me por ter falado “invadiu ela” e não “a invadiu”.
– Não! Eu estava entrando na vaga, já tinha sinalizado, quando um carro ia roubar a vaga. Era seu o carro?
– Era.
– Então, eu já tinha sinalizado e tudo, você que ia invadir a vaga!!! – Ponha aqui uma pitada de fúria, mau humor e quantas exclamações forem possíveis na fala da dona.
– Ok, apenas tome cuidado da próxima vez. – Encerrei, percebendo que ela não tinha ninguém com problemas de saúde precisando de socorro e também não ia reconhecer a falha e me pedir desculpas.
– Não, você que ia roubar minha vaga e…
 

Não sei até agora como eu, que vinha na frente dela, estava roubando a vaga. Sem saco pra prolongar uma discussão infrutífera, fui embora em direção ao trabalho. Até o flanelinha que viu tudo comentou comigo depois a má educação da dona. Ela foi embora em outra direção, resmungando e fazendo gestos de reprovação, certamente me culpando pelo dia ruim dela ou pela vida frustrante que ela tem e desconta no resto do mundo, achando que caixas de metal são sacos de pancada.

5 thoughts on “Educação soterrada no asfalto

  1. O senhor só saiu feliz da vida assim porque ela não chamou você de "rapariga ruÍM" como fez uma pseudopessoa dia desses comigo. Ando… Ops!, dirijo ultimamente sem ânimo pra esses espécimes.

  2. Oi Cocoto!

    Sei bem o que é isso. affe maria.. E somando que o transito daqui está ficando uma loucura… A minha paciencia se esgota num instante. Tou quase virando o senhor "volante" quando entro no carro, por causa dos stress que eu vou passar… =(

    Sobre o teu insidente, já aconteceu parecido com a mãe de uma amiga minha. Só q ela parou o carro do lado e deu uma de maluca. Bateu no vidro do carro da pessoa e e disse: "A sua mãe num lhe deu educação, não? Eu não sei se você viu, mas eu estava parada esperando pra pegar essa vaga. Por favor, faça a decencia de tirar esse carro daí, se não você não encontra-lo no mesmo estado que você deixou!!!" Foi do tipo, dou 1 boi pra não entrar na briga, mas dou uma boiada enteira pra não sair, sabe. Hehehehe

    Bjos, cocoto =*

    Dani

  3. Oi, excelente texto, posso 'linkar'? Me agrada a maneira como te expressas a respeito deste problema, que é comum a todos no transito, que a maioria pratica mesmo sentindo que é errado.

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