Há poucas horas, saí pra jantar com minha namorada e a família dela, pra uma pizzaria que fica na Varjota, bairro aqui de Fortaleza. Não vale a pena citar o nome aqui porque não quero prejudicar a pizzaria, que não tem nada a ver com isso. Isso nem importa, já que pro que vou relatar não existe lugar seguro.
Estávamos quase pedindo a conta quando escutamos um barulho de tiro vindo da rua, e um casal entra às pressas, a mulher em pânico. Pelo que entendi, uma caminhonete passou muito rápido pela rua da pizzaria e o homem do casal gritou pra caminhonete, reclamando da velocidade. Imediatamente o vidro da caminhonete abriu e alguém de dentro dela disparou um tiro pro alto.
Ora, se alguém disparou um tiro pro alto tão logo recebeu um grito vindo da calçada, essa arma só podia estar engatilhada e pronta pra atirar. Não sei e nem sei se vou saber se isso se trata de alguma brincadeira de péssimo gosto ou se o(s) ocupante(s) da caminhonete estava envolvido em algum crime, mas qualquer explicação para isso é assustadora.
Minutos depois, a calmaria no restaurante foi restabelecida. Porque nós já sabemos, aqui no Brasil, que qualquer um que ponha o pé fora de casa está propenso a isso. Comigo já é a segunda vez que estou comendo em algum lugar e escuto o barulho de tiro seguido de pânico.
Na época das eleições, uma frase bem batida é “odeio política”. Porque brasileiro odeia impostos, odeia insegurança, odeia corrupção. Mas quer dar um jeitinho em tudo, quer parar o carro em local proibido, quer ouvir música nas alturas e o vizinho que se foda, e na época das eleições enche a boca pra falar “odeio política”. Amigo, odeie até os políticos, mas não odeie política, sim?
Passei no supermercado antes de vir pra casa e vi a capa da Época:
Quando chego em casa, está tendo debate na TV dos quatro presidenciáveis que lideram as pesquisas. Muito discurso político, muita promessa, “vamos investir em segurança”, “fazer um país melhor para as crianças”… E eu só consigo pensar em como tudo aquilo é balela pra ganhar votos. A atual gestão do governo estadual do Ceará, que prometeu colocar uma nova polícia cheia de viaturas nas ruas, só fragmentou a polícia e multiplicou notícias de acidentes de carro envolvendo viaturas.
Porque não basta colocar polícia na rua: tem que fazer a polícia funcionar, pegar o bandido, colocar na cadeia, e ele não sair de lá enquanto não estiver apto ao convívio social. Acabar com a impunidade. Tem que dar ao povo educação de qualidade, porque educação é a base de tudo, mas como sabiamente disse o Alexandre Garcia essa semana na TV, o candidato a presidente da eleição passada cujo foco estava na educação obteve 2% dos votos (o candidato em questão é o atual senador Cristovam Buarque, e foi dele meu voto para presidente na época).
Um candidato qualquer a deputado estadual encheu as ruas de Fortaleza com placas onde está escrito “a favor da pena de morte”. O Brasil tem um poder judiciário que nem funciona e onde vivem jogando inocentes na cadeia, agora imagina eles sendo condenados à morte! Não, não dá.
Meu sentimento, nessa época de eleições, tem sido de total descrença: um monte de promessas, candidatos despreparados, políticos que outrora foram grandes expoentes fazendo propaganda de candidatos que não dá pra levar a sério.
Lembra da frase atribuída a Olga Benário Prestes, “Estou grávida de Luis Carlos Prestes e vou ter meu filho no Brasil”? Meu colega de trabalho Vinícius, no auge de seu humor ácido, comentou sobre ela: “Acho duma deselegância ter filho no Brasil”. Não sei se é pelos mesmos motivos que ele falou isso, mas eu, sinceramente, concordo com ele. Eu não colocaria uma criança num país desse.
A vontade que tenho, atualmente, é de trabalhar e estudar para, em alguns anos, tentar a vida em algum país sério, onde eu possa andar à pé na rua, ir de bicicleta pro trabalho, onde eu pague meus impostos mas receba algo em troca do governo. Quero levar ao pé da letra o antigo bordão da época dos anos de chumbo do presidente Médici, “Brasil: ame-o ou deixe-o”, porque eu não gosto de amor não-correspondido.
Duvido muito que o país melhore em pouco tempo, então mais rápido é se esforçar pra fazer minha revolução pessoal e tentar morar num país que preste dentro de alguns anos. Não tem patriotismo que me faça superar o medo de sair à pé e ser assaltado ou receber uma bala ao sair pra jantar. É mais fácil e mais rápido se mandar daqui, e sugiro isso a qualquer pessoa que possa fazê-lo hoje. A máquina do Estado não será consertada tão cedo.
Quando escuto um tiro que é esquecido logo em seguida, quando vejo alguém furando uma fila, um carro grande no trânsito cujo motorista se acha melhor que os outros, a capa das revistas semanais falando do nosso sistema burocrático, só me resta pensar “Isso é Brasil…” e tentar esquecer em seguida, como bom brasileiro.
Não tem patriotismo no mundo que me faça acreditar que esta terra é boa de se ter um filho, um local onde você não pode andar nas ruas com segurança e correr o risco de lever um tiro enquanto come uma pizza… Uma vez quando estava morando fora fui perguntado sobre aquele helicóptero que foi abatido por bandidos, sinceramente eu fiquei com vergonha, aquilo é que é realmente esse país e nem me venha com papinho de povo caloroso e feliz…
eu tou caindo fora, como já te disse. eu acho que eu posso fazer três coisas: fazer parte da solução, sair daqui ou me conformar. como me conformar não consigo, e não vou entrar na política nem na polícia, vou saindo de fininho.
meio covarde da minha parte. egoísta, eu diria. vou deixar todo mundo que gosta de mim aqui, longe, e vou lá longe criar meus filhos numa comunidade educada, pacífica. acho que vale.
Cara,
Meus amigos acho que estão cansados de escutar a mesma coisa de mim, como foi dito nos comentários, eu também não consigo me conformar, há até quem consiga se adaptar a isso, o meu problema é que um simples lixo jogado no chão me incomoda profundamente, então acho que o caso é sair daqui também, meus planos a médio prazo são pra isso.
Tava vendo a TV dia desses e vi um gringo que abandonou Londres por São Luiz – Maranhão, pra ele fazia muita falta o "calor humano" e o jeito do Brasileiro, coisas que pra ele eram como se fizessem parte dele.
Acho que é bem por ai, infelizmente não consigo me sentir em casa na minha própria terra.
Parabéns pelo post, Esdras.
Esse é o tipo de texto que nos faz sentir vergonha.
Também senti isso ao ler o post abaixo. E resolvi mudar algumas coisas na minha vida. Fazer minha parte.
Reclamamos muito dos políticos, mas eles são simplesmente os representantes do povo.
Toda vez que temos oportunidade, queremos tirar vantagem da situação, puxar a sardinha pro nosso lado…
http://www.cidadaodequinta.com.br/brasil/engenhei…
É triste.
“Brasil: ame-o ou deixe-o”
… e o último que sair apague a luz
Parabéns pelo Post… Conseguiu traduzir muitos dos sentimentos que muitos dos brasileiros sentem…
Parabéns Esdras. Excelente post.
Um adendo sobre o candidato que usa como promessa de campanha a pena de morte: a pena de morte é proibida pela constituição federal (exceto em situação de guerra declarada a outro estado soberano) e, por isso, só pode ser tratada no legislativo federal. O infeliz em questão é candidato a deputado ESTADUAL, portanto é uma promessa de campanha que ele (se não for absurdamente ignorante em política e governo) já sabe que não vai cumprir neste mandato, se eleito.