Homicídios, árvores e mobilidade urbana

Ontem eu estava indo almoçar e ouvi na Tribuna BandNews FM (101.7) o historiador e colunista Wanderley Filho falar dos manifestantes do Cocó. O texto ouvido no rádio pode ser visto na íntegra em seu blog.

Ele fala dos 19 homícidios que ocorreram no último fim de semana em Fortaleza, e daí falou dos manifestantes que estavam acampados no Parque do Cocó. Alegou que as pessoas acampavam lá pelas árvores, mas não acampavam na frente da Secretaria de Segurança pedindo pela segurança pública. Encerra seu texto falando em inversão de valores.

Concordo com o historiador que a situação de segurança de Fortaleza é assustadora e digna de pânico. Penso, porém, que todo problema merece um protesto, uma reclamação. Se sua causa é a ecologia ou a mobilidade urbana, se você acha que as medidas que o governo municipal está tomando estão erradas, por que não protestar? O número elevado de homicídios em Fortaleza torna os problemas de mobilidade urbana e ecologia dignos de esquecimento? Devemos deixar de evitar um problema de mobilidade urbana que se eleva a nossa frente?

O citado historiador esquece que todos os problemas urbanos são ligados. Tanto o projeto de mobilidade urbana voltado para motoristas quanto as estatísticas de violência têm uma raiz comum: um governo que esquece várias camadas da população. Um protesto não invalida o outro.

Se o amigo leitor acha que um protesto não representa uma causa que você considera mais importante, você é mais do que livre para iniciar seu próprio protesto. Muitos dos protestos que vêm sendo organizados desde junho contaram com a ajuda do Facebook. Quer organizar seu protesto? Crie um evento, chame seus amigos, peça para eles chamarem mais pessoas. Foi assim, inclusive, com o Fortaleza Apavorada, que protestou pela causa citada pelo autor da crítica que me impulsionou a escrever este texto.

Atualização: se for para falar de inversão de valores, eu prefiro falar da polícia. Em vez de perseguir criminosos que cometem roubos e homicídios, ela está desde a madrugada de hoje em confronto com os citados manifestantes.

4 thoughts on “Homicídios, árvores e mobilidade urbana

  1. as pessoas só enxergam o valor de uso de algo. um viaduto serve pra mobilidade urbana, que é sinônimo de carro, veja bem. nunca se pensa em mobilidade urbana pra bicicletas, metrô, trem, pedestre…
    uma árvore não tem valor de uso. Engraçado é que o carro tem valor de uso e simbólico. Compra-se pela cor da moda, pelo modelo novo, pelo status que ele comunica. As pobres das árvores nem valor simbólico podem se dar ao luxo de ter.

  2. Eu concordo com você quando argumenta que cada um luta pelo que acredita e que uka causa nao invalida a outra. No entanto, deveria-se apresentar uma proposta plausível para o trânsito da região sem a necessidade dos viadutos. Fortaleza vive um boom de transformações e crises, os viadutos, pontes e etc parecem ser necessários, visto que gostamos de andar no nosso carro e levar um tempo razoável para chegar aos locais, uma inversão de valores que talvez venhamos a viver é passarmos a usar transporte público..será que mesmo havendo um transporte publico de qualidade estamos dispostos a usa-los?!

    1. Cicília, em primeiro lugar, eu espero ansiosamente pelo dia em que poderei vender meu carro e andar à pé, de bicicleta e transporte público.

      Uma solução de mobilidade urbana é, sim, necessária, mas os viadutos NÃO SÃO essa solução. Vários arquitetos e urbanistas já falaram que viadutos não resolvem o problema, e eles são as pessoas mais capacitadas para falar do assunto. O departamento do Ceará do Instituto de Arquitetos do Brasil até já lançou nota sobre o tema: https://www.facebook.com/iabceara/posts/506859502

      Viadutos NÃO VÃO resolver o problema. NÃO VÃO. Simples assim. Não faz sentido brigar a favor deles.

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