Alguma invenção
Que faça o tempo parar esta tarde
Quando se for o sol
Que a luz desse dia nunca acabe…
(Paralamas, em Esta tarde)
E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais
(Vinicius de Moraes, em Tomara)
Tô cansado. Hoje eu tava no meio do engarrafamento do almoço, cotovelo na porta do carro, mão na cabeça com os dedos enfiados no cabelo, e concluí: tô cansado.
Tô cansado dos monitores, dos cálculos, das abstrações, dos papéis, dos livros que não respondem as minhas perguntas. Tô cansado de andar feito sardinha em ônibus, ou ficar dentro do carro parado no trânsito engarrafado, de esperar o sinal abrir. Tô cansado das músicas amargas e afetadas. Tô cansado de mau olhado, de gente que não sabe ser feliz e não quer deixar os outros serem. Tô cansado das noites mal dormidas, de passar o dia feito zumbi. Tô cansado do que passou e do que acabou, tô cansado dos mortos que querem sair das covas. Tô cansado de pessimismo, de derrotismo, da Lei de Murphy. Tô cansado de frescura, de complicação. Eu cansei dessa vidinha sem graça.
Eu quero derrubar os livros das prateleiras. Eu quero um abraço, eu quero um sorriso, quero que o tempo passe bem devagar. Eu quero não precisar olhar as horas e não ligar se elas passam. Eu quero praia e serra. Eu quero jogar Super Mario. Eu quero não precisar de telefones. Eu quero uma boa conversa, quero entender e ser entendido. Eu quero chuva batendo na janela. Eu quero sentir o chão e olhar pro céu. Eu quero um copo de capuccino. Eu quero um desenho. Eu quero um filme e um cobertor. Minha médica que me perdoe: eu quero um sorvete. Eu quero parar de me preocupar. Eu quero esvaziar a cabeça, rir à vontade e curtir o riso alheio. Eu quero uma música leve e alegre no fundo. Eu quero me sentir vivo. Eu quero fazer valer a pena.
O que eu quero não é muito: eu quero a simplicidade. Apenas.
O autor desse texto, após escrevê-lo, foi estudar coisas abstratas absurdas e correr pra assistir uma aula na qual provavelmente vai chegar atrasado. Ele pode ser avistado por aí pensando no terceiro parágrafo.
e eu tô com saudade ó. rum!
te achei tao pra baixo terça = qq houve?
eu quero uma casa no campo, ar puro, horizonte, olhar nos olhos das pessoas, fazer algo por elas, cantar, escrever…
quero não ter medo