A insustentável leveza do ser

Acabei de ler, por esses dias, A insustentável leveza do ser, de Milan Kundera. Já citei o Kundera por essas bandas, quando li A identidade. Após quase cinco anos parei para ler seu livro mais conhecido, que comprei durante um surto consumista que tive em maio, dentro da fabulosa Livraria Cultura da Av. Paulista, do qual meu cartão de crédito levou tempo pra se recuperar.

Kundera é afiadíssimo e incômodo. Suas reflexões sobre o ser humano, seu comportamento, seu pensamento e sua alma incomodam. A profundidade que ele avança em seus personagens é fabulosa. E ele discorre perigosamente sobre questões essenciais da existência, dos relacionamentos e do pensamento humanos.

Hm, que tal o acaso?

“Só o acaso pode nos parecer uma mensagem. Aquilo que acontece por necessidade, aquilo que é esperado e se repete cotidianamente é coisa muda apenas. Somente o acaso tem voz. Tenta-se ler no acaso como as ciganas lêem no fundo de uma xícara os desenhos deixados pela borra do café. (…) O acaso tem seus sortilégios, a necessidade não. Para que um amor seja inesquecível, é preciso que os acasos se encontrem nele desde o primeiro instante como os pássaros nos ombros de São Francisco de Assis.”

E as dúvidas?

“Só as perguntas mais ingênuas são realmente perguntas sérias. São as interrogações para as quais não há resposta. Uma pergunta para a qual não há resposta é uma cancela além da qual não há mais caminhos. Em outras palavras: são precisamente as perguntas para as quais não há respostas que marcam os limites das possibilidades humanas e que traçam as fronteiras da nossa existência.”

E o amor, Kundera?

“(…) E os amores são como os impérios: desaparecendo a idéia sobre a qual foram construídos, morrem com ela.”

“(…) O amor começa por uma metáfora. Ou melhor: o amor começa no instante em que uma mulher se inscreve com uma palavra em nossa memória poética.”

Não há dúvidas: Kundera sabe criar personagens como ninguém, e a partir deles discorrer como ninguém sobre toda as questões da humanidade.

3 thoughts on “A insustentável leveza do ser

  1. Li Kundera no começo desse ano. O homem é simplesmente genial mesmo. Tem umas coisas que ele escreve que parecem aqueles pensamentos e sensações que a gente tem sempre, mas não sabe explicar, não sabe tornar inteligíveis.

  2. Tudo que está ae é uma releitura de grandes filósofos… Kundera apenas reescrever de uma forma mais fácil de entender ideias dos outros…

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