“(…) No fundo, e justamente quanto aos assuntos mais profundos e importantes, estamos indizivelmente sozinhos, de modo que muita coisa precisa acontecer para que um de nós seja capaz de aconselhar ou mesmo ajudar o outro, muitos êxitos são necessários, toda uma constelação de acontecimentos têm que se alinhar para que isso dê certo alguma vez.”
Conheci Cartas a um jovem poeta durante uma viagem pra São Paulo, em maio. É um livro curtinho, com cartas do escritor Rainer Maria Rilke destinadas ao então iniciante Franz Kappus. Conheço duas traduções, uma versão baratinha de bolso, com preço sugerido de 8 dinheiros, da L&PM, e outra mais cara, da Ed. Globo.
Os temas principais do livro, na minha percepção, são arte, solidão e paciência. Embora curto, alguns parágrafos são tão impressionantes que você volta e lê de novo e de novo e de novo. Posso citar, por exemplo, sobre paciência e persistência:
“(…) Ser artista significa: não calcular nem contar; amadurecer como uma árvore que não apressa a sua seiva e permanece confiante durante as tempestades da primavera, sem o temor de que o verão não possa vir depois. Ele vem apesar de tudo. Mas só chega para os pacientes, para os que estão ali como se a eternidade se encontrasse diante deles, com toda a amplidão e a serenidade, sem preocupação alguma. Aprendo isto diariamente, aprendo em meio a dores às quais sou grato: a paciência é tudo!”
Você já se atormentou por questionamentos para os quais não tinha respostas? O Rilke vem e solta:
“Sinto que nunca um homem poderá dar uma resposta às perguntas e aos sentimentos que têm vida no fundo do seu ser. (…) Peço-lhe que tente ter amor pelas próprias perguntas, como quartos fechados e como livros escritos em língua estrangeira. Não investigue agora as respostas que não lhe podem ser dadas, porque não poderia vivê-las. E é disto que se trata, de viver tudo. Viva agora as perguntas. Talvez passe, gradativamente, a um belo dia, sem perceber, a viver as respostas.”
Não adianta procurar respostas desesperadamente para perguntas, elas surgem naturalmente.
E o Rilke também solta trechos sobre solidão e sobre como lidar com ela:
“Existe apenas uma solidão, e ela é grande, nada fácil de suportar. Acabam chegando as horas em que quase todos gostariam de trocá-la por uma união qualquer, por mais banal e sem valor que seja, trocá-la pela aparência de uma mínima concordância com o próximo, mesmo que com a pessoa mais indigna… No entanto, talvez sejam justamente essas as horas em que a solidão cresce, pois o seu crescimento é doloroso como o crescimento de um menino triste como o início da primavera. Mas isso não deve confundi-lo. O que é necessário é apenas o seguinte: solidão. Uma grande solidão interior. Entrar em si mesmo e não encontrar ninguém durante horas.”
Esse último trecho, aparentemente melancólico, pra mim tem uma conotação positiva. Quando ele fala que a solidão é necessária e que é necessário entrar em si mesmo e não encontrar ninguém durante horas, interpreto isso como conhecer-se melhor e aprender a viver bem consigo mesmo. Penso em usar essa citação do Rilke num texto posterior.
Portanto, fica a dica: por míseros R$ 8, você pode ter na sua prateleira um livro que vai dar para seu lápis ou lapiseira muito trabalho selecionando os melhores trechos.
Já sei o que comprar da próxima vez que passar por uma livraria! ^^
Obrigada.