Algum lugar do espaçotempo. Terça-feira, 31 de agosto de 2004.

Oi Esdras,

Tudo belesma por aí? Por aqui tudo indo. A vida anda corrida, ao mesmo tempo folgada. Ou seria folgada e ao mesmo tempo corrida? Não sei, mas está dando pra viver. Viver!, sem sobre-‘s. Você acredita?

Começo a escrever essa carta numa daquelas noites como de antigamente, em que você deitava e ouvia walkman até o sono chegar. Você conheceu aquela música numa dessas noites, cujo primeiro verso dizia “Sem caminhos pra seguir na incerteza de chegar”. E foi assim que te fiz sentir durante um bom tempo, não?

Esta carta nada mais é que um pedido de desculpas pra você. “Tantas coisas por fazer pra se purificar”. Desculpa ter traído seus princípios, ter feito o que sempre sabíamos que era errado, ter dado ouvidos às pessoas erradas. Desculpa, amigo, ter caído em tentação e ter sucumbido à emoção e jogado a razão no lixo (desculpa, também, repetir os fonemas). Bem que ainda disseram: “Não faz isso que vai dar merda”. Eu ignorei e fiz. E fiz o que fiz contigo.

Desculpa ter falado as palavras com as quais você discordava e assinar com seu nome. Desculpa a sessão de hipnose que fiz contigo pra você mastigar cebola e achar gostoso. A verdade é que hoje, vendo o fotolog da Lana, por exemplo, bate um vazio e algo estranho, talvez, como diria o Renato Russo, uma saudade que eu sinto de tudo que eu ainda não vi, algo que ainda vamos encontrar, e que pensávamos ter achado. Enxerguei demais no lugar errado. Desculpa.

Desculpa ter trocado as certezas pelas dúvidas, joguei nossa felicidade nas mãos de malabaristas, enquanto isso você agonizava de dor. Apontei a direção errada, coloquei uma faca nas suas costas e uma venda nos teus olhos.

Escrevo essa carta numa noite pensativa; quando você a receber, já devo estar perto de chegar, talvez eu chegue enquanto você a lê. Volto para o lugar onde te abandonei. Como diria o último verso da canção, “eu não vou mais fugir de mim”. É bom voltar pra você, até porque voltar pra você nada mais é que voltar pra mim.

Estamos juntos de novo e somos um só.

Um abraço,

Esdras

:: Zero – Quimeras
(Guilherme Isnard)

sem caminhos pra seguir
na incerteza de chegar
quem decide por partir
só pensa em procurar
um futuro com alguém
não importa o que passou
já nem se lembra mais
quer é recomeçar

tantas vidas pra viver
tentando se encontrar
tantas coisas por fazer
pra se purificar
não consigo mais sonhar
já me basta o que vivi
sofrendo ao desejar
quimeras que não consegui

deuses do além
duendes do ar
anjos do bem
vão te mostrar uma luz maior
capaz de convencer
que um mundo bem melhor
existe em você
só pro seu prazer

uma luz maior
a força e o poder
sangue e suor
de quem te fez viver
hoje eu sei porque
eu não vou mais fugir de mim

4 thoughts on “

  1. Como assim? Acho que você mudou e não 'aceitou' a mudança. Sabe?As vezes a gente não segue nossos princípios até o fim. Não até o fim.A vida muda, as pessoas são estranhas. O que dizer da gente, que somos a imagem de um monte de pessoas? (É sim)Se cuida :***Como assim o fotolog da Lana? 😛

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