Eu estava tendo um inferno de manhã. Sexta-feira, meu corpo travado do cansaço acumulado da semana, como se não quisesse mais se mover. Decidi me dar de presente uma ida de carro ao trabalho, usando um das dezenas de aplicativos de transporte compartilhado que nascem e morrem todo dia aqui.
O carro que pedi estava atrasado e eu estava em pé, numa calçada próxima de casa, olhando o desenho do pequeno carro parado no mapa na tela do meu telefone. Apesar da ansiedade de quem está indo tarde pro trabalho, não havia nada que eu pudesse fazer. Comecei a observar o movimento das pessoas correndo naquela sexta de manhã.
De repente, numa das casas perto de mim, sai uma mulher. Enquanto ela segurava o portão da casa, ela gritou a acenou para outra mulher que estava numa parada de ônibus próxima, com um carrinho de bebê. Ela soltou o portão e correu pra onde estava a outra.
As duas abraçaram um abraço de quem não se encontra há muito tempo, um abraço daqueles tão bonitos que dão até vontade de chegar perto, pedir licença e pedir um abraço igual oferecendo um café em troca, mas isso não é socialmente aceito, e a mulher do portão se abaixou para cumprimentar a criança que estava no carrinho com outro abraço.
A mente da gente trabalha para preencher os espaços vazios e tentou criar uma narrativa para aquele encontro, recusando o fato que algumas histórias são melhores se não contadas. Talvez eram duas amigas que não se viam há muito tempo, talvez uma estava vendo pela primeira vez a criança filha da outra.
Nunca vou saber a história daquelas duas, mas o fato é que o carro que eu esperava chegou e, enjoado de exaustão enquanto o carro se mexia, fui pensando como existiam cenas mais bonitas e importantes numa sexta-feira ensolarada de verão que um dia caçando dinheiro.